sábado, 28 de dezembro de 2019

Dizem que brasileiro é dinheirista.

Questões de ética são sempre difíceis de resolver.

Aqui vai uma...

Quando fazia um trabalho em dupla para a graduação em psicologia eu tive a idéia de pedir ajuda financeira para realizarmos a pesquisa. Minha colega não acho que conseguiríamos portanto nem participou da preparação da papelada burocrática ou coisa alguma. Então fiz tudo por minha conta, a explicação dos motivos pelos quais precisaríamos do dinheiro, preenchimento de formulários, calendário de datas para apresentar o projeto, impressão do relatório e tudo o mais.

A ideia era receber um valor que seria suficiente somente para ajudar com as pesquisas de campo que seriam realizadas em breve. Podendo ser usado para imprimir os questionários das pesquisas, cobrir o valor do deslocamento de ônibus para o local onde os idosos seria entrevistados, quem sabe até mesmo pagar um café para o entrevistador e coisas afins.

Conseguimos o valor solicitado, mas meu nome não constou do pedido porque a nossa orientadora achou que se colocassem meu nome o pedido seria indeferido. Isso porque eu tinha um trabalho fixo. Enfim, fiz todo o pedido e combinamos de dividir o valor igualmente entre nós duas, uma quantia de pouco mais de cem reais por mês por um ano.

O pedido foi aprovado e fiquei sabendo pela professora que me avisou que o valor ficaria com a colega. Afinal eu tinha um emprego, um carro e um apartamento. 

Quando encontrei a colega confirmei a aprovação e recebi a confirmação de que ela ficaria com o valor total porque era o que a professora havia falado para ela fazer. Foi uma decepção que se estendeu até o fim do trabalho que, por sinal, tive que terminar quase sozinha. A colega era muito tímida para ir até o local e recrutar os idosos a responder os dois questionários, um de bem-estar  subjetivo e o outro de qualidade de vida. Ela também não queria ir em outros lugares para encontrar idosos. Sugeriu inventar umas respostas randômicas para completar os formulários. Nesse dia decidi fazer as pesquisas eu mesma, com a ajuda do meu namorado.

Na hora de imprimir as pesquisas ela também se esquivou da situação e eventualmente tive que negociar uma ajuda dela para comprar papel e toner para a impressora. Todo final de mês íamos até o caixa eletrônico tirar o valor e me repassar uns 30 reais.

É verdade que eu tinha emprego, carro e casa*, mas o que isso tem haver com o fato de eu ter pedido o valor para a nossa pesquisa e termos combinado a divisão do dinheiro 50/50? Ela era uma colega que cumpria com as promessas e datas. Entretanto, cada um tem a uma ética, como dizia a professora de psicoanálise. Eu, por outro lado, tenho dificuldade em deixar de cumprir uma promessas ou um acordo que fiz. Mesmo quando não estão me cobrando, aquilo fica na minha cabeça por semanas, ou meses me torturando. É comum eu me desdobrar para fazer o que combinei e até sacrificar as minhas vontades para fazer o que havia prometido para outra pessoa. 

Enfim, 0 que você faria numa situação dessas? Será que isso só aconteceu porque havia dinheiro na jogada? Alguns dizem que brasileiro é dinheirista e eu questiono, mas concordo.

*Tinha e tenho emprego porque ninguém pagava, nem paga as minhas contas. Tinha carro porque meu trabalho exigia e era o meu transporte para a faculdade. Tinha apartamento, verdade, financiado em 30 anos e pagava religiosamente o financiamento.

Free photo 8107926 © Alekss - Dreamstime.com

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